sábado, 27 de agosto de 2011

Festa em homenagem aos pais

Hoje 27/08/11 a partir das 20:00 acontece na Associação dos moradores do Curió uma festa em homenagem a tosos os pais. Não deixem de comparecer, Você que é pai ou que deseja homenagear o seu, venha pra a nossa festa que será animada por Ricardo e Bode Safadão.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Treino de futebol de salão das meninas do bairro

Sábado dia 20 de agosto de 2011 estivemos na quadra da escola Isabel Ferreira para registrar o treino de futebol das meninas do bairro, a Associação está dando uma mão aquelas pessoas que já vem desde algum tempo, e com muito esforço se dedicando a atividade de práticas esportivas que resgatam nossas mulheres da ociosidade. A prática de esportes é um potente instrumento de socialização e é bom que se saiba que estas garotas vêm se dedicando à prática esportiva desde longa data e nós da Associação não podemos perder a oportunidade de unir forças a estas guerreiras. As meninas do bairro nossas congratulações.
 O prof. Luciano demonstra competência na condução do treino
 As meninas também opinam
 O treino é puxado mas tem sempre um pouquinho de descontração
Posam para a foto
 Jovens e descontraídas elas demonstram orgulho de fazerem algo de relevância para a comunidade
Breve descanso
E mais orientações do prof. Luciano...

chega de brincadeira agora é valendo...
 O treino é disputado
 Pausa para ajeitar o cabelo, afinal o lado feminino não descuida da vaidade
 A bola é disputada acirradamente









Associação dos moradores do Curíó
 Início das incrições em agosto
 Instrumentos musicais afinados e aguardando os alunos

sábado, 20 de agosto de 2011

Devaneios do corpo que será habitado por sua companhia? Por Ubiracy de Souza Braga


                                                                                                                               

Por Ubiracy de Souza Braga*

Segundo o teólogo Leonardo Boff, “o equivalente à torcida do Corinthians saiu da linha da miséria, e o equivalente à torcida do Flamengo saiu da linha da pobreza”, para referir-se ao eixo Rio-São Paulo. E Fortaleza quando irá alcançar a 1ª divisão definitivamente? Só quem não entende nada ou quase nada da história política e social do Brasil não vê que isto representa uma grande transformação das estruturas de classe em nosso país a favor dos menos favorecidos. Para ele, a crise da cultura mundial reside na “falta de cuidado”, falta clamorosa no tratamento das crianças e dos idosos, dos ecossistemas, das relações sociais e de nossa própria profundidade. É o “cuidado” que salvará o amor, a vida e nosso esplendoroso planeta Terra. Questão nevrálgica no Ceará, entre outras, refere-se ao “cuidado” de crianças e idosos.
Na Carta da Terra, documento elaborado ao longo de 8 anos, talvez analogamente, como no aprendizado da “arte cavalheiresca do arqueiro Zen” (cf. Herrigel, 1998), envolvendo as bases da sociedade e o melhor do pensamento ecológico, político e ético de 46 países e implicando mais de 200 mil pessoas, visando garantir o futuro do Planeta e da humanidade, e recentemente acolhido pela UNESCO, nesta Carta, o eixo estruturador é a “ética do cuidado”. Ou seja,
“Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e grande esperança. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade de vida e com as futuras gerações”.
Para vocês, diz Leonardo Boff, da medicina e da enfermagem, essa assunção não
significa nenhuma surpresa, pois, como disse e repito, o “cuidado” é a essência da atitude curativa dos operadores da saúde. Já no século passado emergia essa perspectiva do cuidado com a famosa enfermeira inglesa Florence Nightingale. Ela deixou a Inglaterra e foi tratar, sob a “ótica do cuidado”, os soldados feridos na violenta guerra da Criméia. O conflito iniciou-se efetivamente em março de 1854. Durante o cerco a Sevastopol, a doença cobrou um pesado tributo às tropas britânicas e francesas, tendo se destacado o heroico esforço de Florence Nightingale dirigindo o atendimento hospitalar de campanha. A praça-forte, em ruínas, só caiu um ano mais tarde, em setembro de 1855. Em seis meses conseguiu reduzir de 42% a 2% a mortandade entre os soldados feridos. De volta organizou toda uma rede de hospitais que davam centralidade ao cuidado. Deu origem a uma corrente de pensamento e de ética na enfermagem, articulada ao redor do “cuidado”, hoje muito forte nos Estados Unidos e de resto no mundo.
Sustentamos a tese segundo a qual a “corpolatria” é uma espécie de “patologia da modernidade”. Ela se caracteriza pela preocupação de “cuidados extremos” com o corpo, não exatamente no sentido da saúde ou presumida falta dela, como no caso da hipocondria, mas particularmente no sentido narcisístico de sua aparência diante de um espelho em que se torna obsedante, incapaz de satisfazer-se com ela, sempre achando que pode e deve aperfeiçoá-la. Sendo assim, a corpolatria “se manifesta como exagero no recurso às cirurgias plásticas, gastos excessivos com roupas e tratamentos estéticos, abuso do fisiculturismo, entendido como musculação, uso de anabolizantes”, etc. como temos na relação fútil entre aqueles que enformam a classe média com relação ao consumo em geral de tudo aquilo que envolve o seu corpo (cf. Braga, 2011).
A associação entre classes médias e consumo, tão comum na literatura, mostra que o consumo é um recurso central na formação da identidade desta classe. O maior salário desta classe, no caso cearense é de um professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), cuja remuneração total chega a R$ 46.430,42. O levantamento, com base em informações retiradas do Siape – sistema on-line que administra o quadro de pessoal civil do Governo Federal – revela remunerações acima de R$ 25.725,00, teto salarial da administração pública, subsídio de ministro do Supremo Tribunal Federal. Parte dos altos salários decorrente do pagamento de sentenças judiciais é de fato de um servidor da Universidade Federal do Ceará, remuneração de R$ 46.430,42, decorrente de sentença judicial. A remuneração, originalmente de R$ 18.975,05, tem decisão judicial incorporada no valor de R$ 27.455,37. Sobre esse valor, incide corte de R$ 9.294,32. Com isso, a remuneração bruta é de R$ 37.136,10.
Além desse caso do servidor da UFC, há, no Executivo Federal, outros quatro com remuneração total (remuneração inicial somada à decisão judicial) superior ao teto salarial da administração pública: um no Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba (R$ 33.232,39), um na Universidade Federal do Acre (R$ 32.202,63), um na Universidade Federal de Minas Gerais (R$ 28.732,27) e um na Universidade Rural Federal do Rio de Janeiro (R$ 28.251,78). A portaria que divulga os maiores e menores salários da administração pública federal é publicada três vezes ao ano e trás brutos os valores das remunerações, sem incidência de descontos, impostos ou contribuições. A última publicação ocorreu em outubro do ano passado.
O então reitor da UFC, Roberto Cláudio Frota Bezerra, pediu na ocasião a lista dos salários de todos os funcionários da universidade. Ele quis mostrar que não há “marajá” na instituição. O levantamento foi pedido após a revista “Veja” publicar nota dizendo que oito professores da UFC recebiam mais de R$ 22 mil. Eles estariam entre os dez mais bem pagos do país. Os supostos supersalários, segundo a reitoria, foram concedidos pela Justiça. Os beneficiados conseguiram incorporar gratificações e perdas salariais de planos econômicos, como o Plano Collor, que trouxe abono de 84% aos salários. A maioria dos que têm altos salários é de aposentados que tiveram cargo de direção na UFC, como Pedro Sisnando, então secretário de Desenvolvimento Rural do Ceará. Ele nega que receba mais de R$ 20 mil e quer que a UFC divulgue o real valor de sua aposentadoria.
Se o “alto valor” nem Freud explica, menos ainda Marx, numa esfera da economia onde o servidor não detém decisões judiciais favoráveis a pagamentos de retroativos, mas “conseguiu ainda incorporar uma série de gratificações acumuladas ao longo do tempo. Sobre o montante, no entanto, incide o abate teto – instrumento legal utilizado pelo governo para adequar a folha de pessoal -, o que faz com que a remuneração bruta caia para R$ 37.136,10. Na mesma instituição, o servidor que está na base da pirâmide ganha R$ 837,04 por mês”. Agora Marx explica: uns são, uns não, quanto à origem da pauperização do trabalho.
Economicamente falando, embora tenha alcançado elevado índice de crescimento nos últimos 20 anos, a concentração de renda de sua população aumenta significativamente, de modo que os 10% mais pobres ganham em média 0,76% do salário mínimo, enquanto os 10% mais ricos ganham 45,7 salários mínimos. Estes desequilíbrios têm se refletido em várias frentes de expansão da miséria social e da violência, através da segregação dos espaços da cidade. Dados de 1995 revelam um contingente de 720 mil favelados, o que corresponde a 36% da população de Fortaleza. Os espaços de Fortaleza são segregantes, sendo nítida “a cidade dos turistas e a cidade dos miseráveis”. Essa característica deixa alguns habitantes locais “irritados com a invasão dos turistas”, enquanto outros pensam que “turismo desenvolve a cidade”, econômica e socialmente, por ser uma atividade geradora de empregos e de renda. A cidade, como de resto no Brasil, reúne belas praias, e conta com a receptividade de “seu povo” e outros atrativos culturais, mas a identidade não está na condição de nordestino (cf. Penna, 1992), de classe ou de gênero, mas sim no modo como estas condições são apreendidas e organizadas simbolicamente, daí a expressão: “orgulho de ser nordestino”.
Ideologicamente seus governantes e próceres desenvolvem a ideia de que a cidade é um polo industrial e um centro turístico, “sendo uma das cidades que mais cresce na região Nordeste”. Mas para Josênio Parente nem sempre foi assim, pois,
O Ceará não formou oligarquias fortes porque, na sua estrutura, a economia não ajudou. Nossa economia é de seca. A base de sustentação do poder local sempre foi em cima de se obter voto. E, se na hora da seca, até o dono da terra sai, como ele pode sustentar esse poder? O Ceará está muito mais ligado ao messianismo, a uma magia para explicar as incertezas que a natureza deixou na nossa realidade. O Ceará não pôde formar oligarquias como em Pernambuco, como na Paraíba. Aqui você teve a oligarquia dos Acioly, que passou menos de doze anos, e as pessoas se lembram como se os Acioly dominassem todo o tempo no Ceará. A literatura se influenciou demais pela literatura de Pernambuco. As pessoas pensavam que Pernambuco era Nordeste. O manifesto regionalista de Gilberto Freyre mostra isso. Então o Ceará encontrou essa inferioridade e os intelectuais não tinham essa visão. Quixadá era formada por elites comerciais e não por coronéis. A família Barreira desaparece na década de 20 para ficar a Igreja tomando espaço. Isso mostra a fragilidade enorme de encontrar elites civis fortalecidas” (cf. Parente, 2001).
A chamada “Grande Fortaleza” é a quinta maior metrópole do Brasil, e passa por todos os problemas urbanos comuns às cidades brasileiras, pois desgraçadamente, entre as regiões metropolitanas é a segunda maior em proporção de pobres, logo atrás do Recife e um pouco à frente de Salvador. O rápido crescimento urbano-econômico de Fortaleza, que possui 336 km2 de área totalmente urbanizada, e a firme deliberação dos governos municipais e estaduais, as transformou numa moderna urbe, em um polo turístico emergente, mesmo sendo uma cidade repleta de contrastes e sem solução de seus problemas sociais e culturais em curto prazo com governos ainda sob a égide de oligarquias, inclusive nas universidades, no campo e nas cidades.
Ipso facto a literatura sobre o consumo de classe média tem se voltado, fundamentalmente, para a formação e a expressão dessa identidade canhestra na prática, e não para o modo como as pessoas definem a classe média através do discurso político. Ou de tradição sociológica de Marx aos neo-estruturalistas. Historicamente algumas pesquisas chegaram perto de concluir que a classe média no Brasil tem sido modelada e definida pelo consumo, como ocorre sobre as classes médias no Rio de Janeiro e em São Paulo, antes da década de 1950, e depois pelas “antenas de TV”, onde as identidades de classe média se forjavam principalmente em oposição à classe operária.
Além disso, como sabemos em seu parti pris, a classe média foi cooptada pelo regime militar no Brasil (1964-1985), com o chamariz do consumo, como pode foi visto na Passeata dos Cem Mil que foi uma manifestação popular de protesto contra a ditadura militar no Brasil, ocorrida em 26 de junho de 1968, na cidade do Rio de Janeiro, organizada pelomovimento estudantil as associações de bairro, os grupos ecológicos, os sindicatos de trabalhadores, os grupos de defesa da mulher e também as entidades estudantis – Diretórios Centrais, União Estadual, Centros Acadêmicos, Executivas Nacionais – como órgãos representativos desse setor social. E a UNE – União Nacional dos Estudantes deixa de ter caráter unificador dos anseios da população, para ser um órgão de atuação mais específica das escolas e que contou com a participação de artistas, intelectuais e outros setores da sociedade brasileira.
Em outras palavras, as chamadas classes médias e relativamente às chamadas “altas classes”, na falta de melhor expressão, teriam sido as grandes beneficiárias da expansão das oportunidades de emprego e do florescimento da sociedade de consumo que se seguiram ao “milagre brasileiro” de 1968-1974. O “milagre econômico brasileiro” é a denominação dada à época de excepcional crescimento econômico ocorrido durante o Regime militar no Brasil (1964-84), também conhecido pelos oposicionistas como “anos de chumbo”, especialmente entre 1969 e 1973, no governo Médici. O general Medici governou o país durante o regime militar, sendo o seu governo conhecido como “os anos de chumbo da ditadura”, devido à violentíssima repressão promovida à oposição durante seu governo. Prisões, torturas e grupos de extermínio foram fatos comuns em seu governo, que lhe deram o apelido de “Carrasco Azul”, devido ao seu sobrenome, Garrastazu.
Nesse período aparentemente áureo do desenvolvimento brasileiro em que, paradoxalmente, houve aumento da concentração de renda e da pobreza, instaurou-se um pensamento ufanista de “Brasil potência”, que se evidencia com a conquista da terceira Copa do Mundo de Futebol em 1970 no México, e a criação do mote: “Brasil, ame-o ou deixe-o”, em que coincidências à parte o grupo musical bahiano “Doces Bárbaros” cantavam: “O seu amor ame-o e deixe-o livre para amar…”. As três vitórias na Copa do Mundo ajudaram a manter no ar um clima de comunicação euforia generalizada, nunca antes vista, e daquilo que Elio Gaspari apelidou de “patriotadas”. O Brasil cantava: “Noventa milhões em ação,/prá frente, Brasil do meu coração(…) Salve a seleção”.
Doces Bárbaros é o nome de um grupo de MPB dos anos 1970 formado por Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa. O grupo surgiu para comemorar os 10 anos de “carreira solo” dos seus componentes, que pretendiam além de realizar shows, gravar um disco ao vivo e registrar tudo em um documentário. Como grupo, Doces Bárbaros pode ser descrito “como uma típica banda hippie dos anos 70, mas sua característica marcante é a brasilidade e o regionalismo baiano, naturalidade de todos os integrantes”. O disco de 1976 é considerado por muitos uma obra-prima da música brasileira, mas, curiosamente, na época do lançamento, foi duramente criticado. Idealizada por Maria Bethânia, a banda interpretou composições de Caetano e Gil, fora algumas canções de outros compositores como “Fé cega, faca amolada”, de Milton Nascimento e o clássico popular “Atiraste uma pedra”, de Herivelto Martins.
Inicialmente o disco LP seria gravado em estúdio, mas por sugestão de Gal e Bethânia, foi o espetáculo que ficou registrado, sendo quatro daquelas canções gravadas pouco tempo antes no compacto duplo de estúdio, com as canções “Esotérico”, “Chuckberry fields forever”, “São João Xangô Menino” e “O seu amor”, todas as gravações raras. Na composição de Gilberto Gil, vejamos a letra de “O seu amor”: “O seu amor/Ame-o e deixe-o/Livre para amar/Livre para amar/Livre para amar/O seu amor/Ame-o e deixe-o/Ir aonde quiser/Ir aonde quiser/Ir aonde quiser/O seu amor/Ame-o e deixe-o brincar/Ame-o e deixe-o correr/Ame-o e deixe-o cansar/Ame-o e deixe-o dormir em paz/O seu amor/Ame-o e deixe-o/Ser o que ele é/Ser o que ele é/Ser o que ele é”. Na época da turnê, Gilberto Gil foi preso em Florianópolis por porte de drogas, fato que acabou sendo registrado no documentário:Doces Bárbaros, dirigido por Jom Tob Azulay.
Mas, como dizíamos, é a “classe” par excellence por se distinguir dos demais setores sociais por intermédio do consumo tal e qual: “the Roman Senate conferred the honorific title of Augustus, the imperial title par excellence”. Assim, “sociedade de consumo” é um termo utilizado para designar o tipo de sociedade que se encontra numa avançada etapa de “desenvolvimento humano”, fenomenologicamente de Hegel à Marx, e que nos dias de hoje, se caracteriza pelo consumo massivo de bens e serviços, disponíveis graças à elevada produção dos mesmos através da exploração da capacidade de trabalho e de serviços informatizados. O conceito é expressão de economia de mercado e, por fim, ao conceito de “modernidade” (cf. Braga, 1996) diante do capitalismo.
A evolução da população do estado do Ceará, mutatis mutandis, da região Nordeste e do Brasil referente aos anos de 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010, possibilita a análise do crescimento populacional e das mudanças de consciência ocorridas na estrutura demográfica do Estado. Especificamente na última década, constatou-se que o Ceará registrou um aumento absoluto em sua população de 1.021.720 habitantes, o que equivale a um crescimento relativo de 13,75%. Em termos percentuais, a população estadual correspondeu a 15,92% da população da Região Nordeste e a 4,43% da população do Brasil, em 2010. No Brasil, a classe média tem características singulares decorrentes de sua história peculiar. Aqui ela se propôs, [no Brasil] de acordo com Martins (2009), com a difusão do trabalho livre, muito aquém do marco liberal, contratual e racional que lhe foi próprio nos Estados Unidos e nos mais avançados países europeus. Em nosso marco próprio definiu-se nossa ideologia da ascensão social pelo trabalho, o caminho dos trabalhadores para a classe média. A ideologia de ascensão pressupunha méritos para escalar os degraus do escape das posições sociais ínfimas. Portanto, regulava não só o ritmo da mobilidade social, mas também instituía certo conformismo na mudança. Isto é importante.
A consciência de “classe média” persistiu, porém, não mais como consciência da obrigação dos sacrifícios próprios das conquistas pessoais, do preço a pagar pela ascensão, mas “como consciência do débito entre o desejado e o realizado, do preço a receber pela condição de classe”. A nova classe média brasileira não está perecendo, mas está em franca decadência, o que pode ser observado todos os dias, nos últimos anos, no tipo de reivindicação que faz e no protesto que grita. Perdeu o gosto pela “leitura”, e pelas artes em geral, do ponto de vista da atividade intelectual criadora, para lembrarmo-nos de A. Gramsci. As reivindicações corporativas, como as das “cotas” de todo tipo para ingresso nas universidades proclamam a disseminação de um “novo vestibular”, não mais para selecionar talentos, mas para distribuir privilégios, o vestibular das cotoveladas nos direitos universais em nome dos direitos corporativos.
No fundo, levantam a bandeira reacionária de pretenderem o ensino público e gratuito só para si. Especificamente na última década, constatou-se que o Ceará registrou um aumento absoluto em sua população de 1.021.720 habitantes, o que equivale a um crescimento relativo de 13,75%. Em termos percentuais, a população estadual correspondeu a 15,92% da população da Região Nordeste e a 4,43% da população do Brasil, em 2010. Fortaleza, tendo o 15º maior PIB municipal da nação e o segundo do Nordeste, com 28,3 bilhões de reais, é relativamente um importante centro industrial e comercial do Brasil, com o sétimo maior poder de compra do país. No turismo, a cidade alcançou a marca de destino mais procurado no Brasil em 2004, com atrações como a “micareta” Fortal no final de julho e o maior parque aquático do Brasil, Beach Park.
Em 2010 foi a capital do Nordeste mais requisitada por viajantes nacionais, segundo um estudo do Hotéis.com. No cenário nacional, a capital cearense ocupou a 4ª colocação, atrás apenas do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. É sede do Banco do Nordeste, da Companhia Ferroviária do Nordeste e do DNOCS. Em 1996 a cidade ingressou no chamado “Mercado Comum de Cidades”, mas permanece com um quadro de violência urbano onde se incluem: prostituição contra crianças e adolescentes, crimes de pistolagem, assassinatos de mulheres, que gerou a Lei denominada: “Maria da Penha”, acentuado índice de desemprego, corrupção passiva no serviço público de carreira e particularmente nas universidades.
Em entrevista ao jornal “O Dia” (RJ), o cantor Fiuk contou que o pai, Fábio Jr, quase “ficou” com uma namorada sua. “Ele passou perto. Lembrou na hora: ´Pô, é namorada do meu filho’. E teve bom senso. Ele come até pedra”, brinca ao comentar a fama do pai. Em um “jogo rápido” com o jornal, Fiuk afirmou que dividiria uma mulher com seu pai: “Se eu não estivesse namorando, as coisas seriam bem diferentes. Mas sim, por que não? Qualquer brincadeira vale. A vida é uma só”. O cantor ainda contou que sempre dorme pelado e não revelou se depila alguma parte do corpo, mas o certo é que os devaneios do corpo, de acordo com Freud, ocorrem através da mediação do ego em defesas bem e malsucedidas a expressão direta e indireta, na forma de sintomas neuróticos e atos simbólicos são conseguidas. Este modelo de homem necessita de um alto grau de controle na sociedade e saídas institucionalizadas para os impulsos. Sem esses, de acordo com o modelo freudiano, viveríamos de forma arriscada. Não é esse o caso das chamadas classe médiano Brasil e em particular na cidade de Fortaleza?

*Ubiracy de Souza Braga é sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) e Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Bibliografia geral consultada:
HERRIGEL, Eugen, A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen. 15ª edição. São Paulo: Editora Pensamento, 1998; BRAGA, Ubiracy de Souza, “Modernidades e Cultura de Fronteira”. Conferência escrita e falada na 4ª Reunião Especial da SBPC – Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência. Campus da Universidade Estadual de Feira de Santana, BA, 24 a 28 de novembro de 1996; Idem, www.oreconcavo.com.br/2011/01/27/corpolatria-patologia-da-modernidade-por-ubiracy-de-souza-braga/; http://www.oreconcavo.com.br/2010/06/06/o-ceara-socialista-notas-e-comentarios-ubiracy-de-souza-braga; PARENTE, Josênio,“Coronelismo: Nova versão para uma velhahistória”.Disponívelem:http://www.nordesteweb.com/not01/ne_not_20010131a.htm;RICCI, Rudá, “O Maior Fenômeno Sociológico do Brasil: a Nova Classe Média”. http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2010/01/20;MAURA, Penna, O que faz ser nordestino: identidades sociais, interesse e o´escândalo` Erundina. São Paulo: Cortez, 1992;WALHENS, A de, “L`idée phénoménologique d’intentionalité”. In: Hussuerl et la pensée moderne. Haia: 1959; BOTTOMORE, Tom, “Marxismo e Sociologia”. In: NISBET, Robert; BOTTOMORE, Tom, História da análise sociológica. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980; IANNI, Octavio. Dialética e capitalismo – ensaio sobre o pensamento de Marx. Petrópolis: Vozes, 1982; KONDER, Leandro. O Futuro da Filosofia da Práxis. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1992; BOFF, Leonardo, Saber Cuidar: ética do humano – compaixão pela Terra. Petrópolis: Vozes, 1999; Idem, Depois de 500 anos: que Brasil queremos? Petrópolis (RJ): Vozes, 2000; Idem, A Nova Era: A Consciência Planetária. Rio de Janeiro: Editora Record, 2007; Idem, “Uma história épica: Irmãs negras”. In: Diário do Nordeste. Fortaleza, 23 de novembro de 2009; MARTINS, José de Souza. “O medo da classe sem destino”. Jornal O Estado de S. Paulo. São Paulo, 14-06-2009, Caderno Aliás, p. J3; ALBUQUERQUE, J. A. Guilhon, “Classe Média: Caráter, Posição e Consciência de Classe”. In: Classes Médias e Política no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977; pp. 11-31entre outros.

Comunidade Santa Edwiges: Santa Missa às 16h

Comunidade Santa Edwiges: Santa Missa às 16h

Santa Missa às 16h

A Comunidade Santa Edwiges se reúne amanhã, sábado, dia 20, para celebrar a Eucaristia e a Palavra de Deus, a vida da comunidade e as bençãos de Deus. Às 16h sob a presidência do pároco de Lagoa Redonda, Padre Raimundo Leandro de Araújo. Todos são bem vindos e sintam-se convidados!

Sesc - Serviço Social do Comércio

Sesc - Serviço Social do Comércio: AoGosto Popular


Programação SESC Centro (Fortaleza)


Dia 22
Exposição AoGosto Popular Por Eliane Lobo

II Encontro de Repentistas do SESC CENTRO
Apresentação Zé Maria de Fortaleza
Abertura com o Grupo Batuta Nordestina – “Em Ritmo de Cantoria”
Participação dos Repentistas:
Zé Vicente e Messias Soares
Chico Sobrinho e Rubéns Ferreira
Antonio Jocélio e José Eufrasio
Ari Teixeira e Marco Rabelo
Edmilson Saldanha e Rosaneto

Local: SESC Centro (Rua 24 de Maio, 692)
Horário: 19 horas

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Universidade Federal do Ceará

Abertas inscrições para curso de avaliação de projetos sociais, mais informações no link que segue: Universidade Federal do Ceará

IBGE · PAÍSES@

Se quiserem conhecer um pouco da realidade sócio-econômica do mundo dêem uma espiadinha aqui nesse link: IBGE · PAÍSES@

Matérias sobre o bairro

Outro vídeo sobre o Curió também  postado no Youtube

Conhecendo o bairro Curió

Curió é pequeno bairro em Fortaleza. Acompanhe os vídeos para conhecer um pouco do bairro:

Aí em baixo segue um show de slide que trás algumas imagens do bairro
 
Obrigado a todos os que dispuseram vídeos e slides sobre o lugar maravilhoso que escolhemos como morada.

ETUFOR - Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza - Carteira Estudantil

ETUFOR - Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza - Carteira Estudantil

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Fidel Alejandro Castro Ruz faz 85 anos » O Recôncavo



Fidel Alejandro Castro Ruz faz 85 anos

Por Ubiracy de Souza Braga, sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), doutor em ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Esta noite milhões de crianças dormirão na rua, mas nenhuma delas é cubana” (Fidel Castro
).
Fidel Alejandro Castro Ruz nasceu no dia 13 de agosto de 1926, nano de Birán, província de Holguin. Seu pai, Ángel Castro Argiz, era um agricultor neste povoado. Fidel Castro foi presidente de Cuba desde a Revolução Cubana (1958-1959), que derrubou o governo pró-americano do general Fulgêncio Batista, até fevereiro de 2008. Esta revolução tinha um caráter nacionalista e socialista, pois recebeu forte influência do “companheiro” Ernesto Che Guevara (conhecido como “Che”) e do irmão de Fidel, Raul Castro. Após a revolução social, Fidel Castro aproxima-se da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, fazendo de Cuba uma aliada do socialismo na América Latina. Fato que fez com que os Estados Unidos passassem a tratar a ilha como uma perigosa inimiga. Os Estados Unidos, na década de 1960, implantou um bloqueio econômico a Cuba, influenciando também na expulsão do país da OEA – Organização dos Estados Americanos (cf. Gonzalez-Manet, 1990).
Após a revolução, Fidel implantou um sistema socialista na ilha, acabando com a desigualdade social entre os cidadãos cubanos. Implantou uma economia planificada, que contou com o apoio soviético durante a Guerra Fria. Após a queda do muro de Berlim e o fim dos regimes socialistas na Europa Oriental, Cuba começou a passar dificuldades sem os investimentos soviéticos. Atualmente, embora possua um bom sistema educacional e de saúde, os cubanos sofrem com as dificuldades financeiras. Castro ocupou o cargo de primeiro ministro da República de Cuba de 1959 até 1976. Em 2 de dezembro de 1976, passa a ser o presidente do Conselho de Estado (chefe do Estado) e presidente do Conselho de Ministros (chefe de governo) de Cuba. Além de todos os cargos que acumula no governo, é o primeiro secretário do PCC desde a sua fundação em 1965. 
Líder e secretário-geral do partido desde sua fundação, em 19 de abril de 2011, Fidel, que havia entregue o cargo de presidente em 2006, foi substituído como secretário-geral do Partido Comunista Cubano por seu irmão, Raul Castro, retirando-se oficialmente da vida política do país. Ganhou o Prêmio Olivo da Paz do Conselho Mundial da Paz em 2011, pela coexistência pacífica entre as nações e por ser uma personalidade que contribuiu para o desarmamento. Isto é importante. Após 49 anos no poder, em 19 de fevereiro de 2008, Fidel Castro anunciou sua renúncia ao cargo de presidente de Cuba e à chefia do Partido Comunista Cubano. O sucessor de Castro, no comando de Cuba, é seu irmão mais jovem Raul Castro. Embora não possua o mesmo prestígio que o irmão, Raul passou a sentir o gosto do poder no final de julho de 2006, após os problemas de saúde apresentados por Fidel Castro. Em abril de 2011, durante o 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba, Fidel castro renunciou a chefia do PCC. Na ocasião, Fidel afirmou que ainda seria um “soldado de ideias”.
A Revolução Cubana foi um movimento armado, inicialmente, que levou à derrubada do ditador Fulgêncio Batista de Cuba em 1º de janeiro de 1959 pelo Movimento 26 de Julholiderado por Fidel Castro. Antes de ele chegar ao poder em 1959, Cuba parecia destinada a ser uma ilha perdida no meio do Caribe. Com ele, o país se tornou socialista, dividindo opiniões mundo afora. Agora, com Fidel afastado, o que será de Cuba sem o comandante? “Aqui, há quatro séculos os exploradores espanhóis se abasteciam de água para seguir terra adentro, de onde retiravam barcaças cheias de prata, níquel e cobre, enchiam seus galeões e partiam do porto de Carenas seguindo para a Europa”, diz Cirules. “Aqui, os cubanos armaram barricadas para expulsar os espanhóis e conquistar sua liberdade, em 1868, no primeiro movimento de Independência de Cuba, a chamada Grande Guerra. A luta contra os espanhóis se estenderia até 1898. E esse é o primeiro capítulo da história da Cuba moderna”.
Historicamente falando na luta pela Independência, os cubanos enfrentaram um império que, apesar de decadente, ainda era infinitamente superior em armas e tropas ao pequeno exército de colonos, que reuniu, no máximo, 12 mil homens – a maioria recrutada entre o contingente de 300 mil escravos. Os espanhóis reagiram aumentando sua presença militar na ilha, mas no fim do século XIX o poder da coroa espanhola não era mais aquele e o reforço foi formado, em sua maioria, por jovens lavradores do interior da Espanha. Entre os convocados às pressas para salvar a Pérola das Antilhas, como os espanhóis chamavam Cuba, estava um rapazote de 20 anos, chamado Angel Castro. Angel chegou a Cuba em 1891, quase não lutou, mas foi feito cabo e, após o conflito e uma rápida volta à Espanha, retornou de vez à ilha, arrumou trabalho e fez fortuna. Antes de completar 50 anos, possuía 11 mil hectares, onde plantava cana, feijão e fumo e criava gado. Tinha oficinas, matadouro, rinhas de galos, leiteria e fábrica de queijos. Angel Castro se casou e teve filhos. Dois deles teriam seus nomes ligados para sempre à história política de Cuba: Fidel e Raul.
A partir da guerra contra a Espanha, outro nome se entremearia à história cubana para sempre: o dos Estados Unidos. “O país sempre foi um dos principais parceiros econômicos da ilha, localizada a apenas 144 quilômetros de sua costa, e desde o século anterior tornara-se o principal importador de açúcar, tabaco e frutas de Cuba”, diz o historiador americano Richard Pells, professor da Universidade do Texas. “Quando estourou a guerra pela independência, os Estados Unidos já eram a grande potência do continente. Haviam expulsado os ingleses e negociado a retirada de franceses e russos da América e não admitiriam mais a intervenção de um império europeu tão perto de seu território”, afirma Pells. Para ele, era natural que os americanos apoiassem a independência cubana.
No início foi um envolvimento tímido e restrito aos meios diplomáticos, mas isso mudaria em fevereiro de 1898, quando um navio de guerra americano, o USS Maine, explodiu e afundou no porto de Havana. Até hoje se discutem as causas do evento, mas, na época, não houve dúvidas: fomentada pela imprensa, a opinião pública americana se convenceu de que os espanhóis haviam sabotado o Maine. Em maio, o governo americano declarou guerra ao Império Espanhol. Os combates que se estenderam pelo Caribe e Pacífico levaram poucas semanas. Os americanos venceram e, em 12 de agosto, impuseram o Tratado de Paris, pelo qual os espanhóis perdiam suas últimas colônias na América: Cuba, que ganhou a Independência, e Porto Rico que permaneceu – e permanece até hoje – possessão americana, além de territórios no Pacífico (Guam e Filipinas).
“A vitória na guerra atraiu grandes companhias americanas de frutas e tabaco e a presença americana em Cuba se intensificou”, diz o historiador Bruce J. Calder, professor da Universidade de Illinois, em Chicago, especialista nas relações entre os Estados Unidos e os países da América Latina e do Caribe. “Isso fez com que o governo americano passasse a intervir efetivamente para defender seus interesses na região”, afirma. Por isso, eles só deixaram Cuba, em 1902, depois de incluírem na Constituição cubana uma emenda que criava benefícios econômicos para empresas americanas. Ficou previsto na lei máxima de Cuba o direito dos Estados Unidos de invadir Cuba a qualquer momento em que seus interesses econômicos fossem ameaçados. Para Calder, a chamada Emenda Platt, na prática, manteve Cuba como um protetorado dos Estados Unidos. Situação que só seria revertida em 1933.
Efeito colateral do crescente interesse americano na ilha, a chegada da máfia também marcaria o destino de Cuba. A data emblemática dessa história é 16 de janeiro de 1920, quando foi assinada a emenda constitucional conhecida como Lei Seca, que proibiu a fabricação, varejo, transporte, importação ou exportação de bebida alcoólica nos Estados Unidos. “Cuba, por sua proximidade e pela fragilidade das instituições recém-criadas, foi envolvida nos negócios dos grupos mafiosos americanos que usavam a ilha para armazenamento e como esconderijo”, diz Enrique Cirules, autor de um livro sobre o tema, El Imperio de la Habana. O ano de 1933, em que foi suspensa a Lei Seca, coincidentemente marca o golpe de estado em Cuba, que levou o sargento e estenógrafo Fulgêncio Batista ao poder. Feito coronel e depois se autopromoveria a general, Batista se manteria no comando da política cubana pelos 25 anos seguintes.
Havana era uma cidade alegre, cheia de vida e de oportunidades para se ganhar dinheiro. Nos anos 1950, economicamente falando, Cuba tinha o terceiro maior PIB – Produto Interno Bruto, entre os 20 países latino-americanos. Porém havia um grande desequilíbrio entre a área rural e a urbana: enquanto as cidades cresciam oferecendo infraestrutura inédita no país, como água encanada e linhas telefônicas, o campo estava em crise com a decadência do modelo baseado nos grandes latifúndios, com a queda de produção e o aparecimento de bolsões de miséria absoluta e fome. Estima-se que 20 mil prostitutas trabalhavam nas ruas e cabarés de Havana, sendo a “indústria da prostituição” a mais rentável da ilha, ultrapassando a produção de frutas e tabaco. Em 1954, um médico em Havana ganhava 90 pesos por mês. No mesmo período, um “crupiê” recebia 1500 pesos, fora as gorjetas. Cuba ocupava o primeiro lugar na América Latina e no Caribe em número de aparelhos de televisão, com 150 mil televisores, e tinha quatro emissoras de TV. Era recordista, ainda, em número de salas de cinema e estações de rádio por habitante. Havana era a cidade onde mais se praticavam abortos na América. A terceira do mundo. No campo, 42% das pessoas eram analfabetas.
Ao subverter as regras do jogo democrático, Batista interrompera as aspirações políticas de outro jovem líder estudantil que, em 1952, se preparava para concorrer a uma vaga no Congresso. Era o recém-formado advogado Fidel Castro, filho de Angel Castro. Depois do golpe, ele e outros jovens, incluindo seu irmão mais novo, Raul, passaram “a defender ações de guerrilha para desestabilizar o governo”. Em julho de 1953, o grupo atacou a guarnição militar em Santiago conhecida como La Moncada. Na ação, alguns dos jovens foram mortos e Fidel e Raul, capturados. Julgados e condenados a 15 anos de prisão, acabaram libertados, em 1955, por interferência de religiosos e políticos. Livre, Fidel publicou A História me Absolverá, conjunto de textos escritos na prisão que se tornou seu manifesto político. No início de 1956, desiludido com os rumos que as alianças partidárias tomavam em Cuba, ele optou pela clandestinidade. Mais uma vez ao lado do irmão, fugiu para o México. Pouca gente em Cuba soube quando voltaram, em novembro daquele ano, escondidos em um pequeno barco de passeio para iniciar uma guerra contra Batista. Dos 80 membros, apenas 15 sobreviveram aos primeiros combates com o exército. O grupo se refugiou na selva e mudou de planos: desistiu da insurreição imediata contra o governo e iniciou “uma longa e lenta luta de guerrilha marxista”.
Quando o tema é economia, uma das questões mais candentes na transição para uma Cuba pós-Fidel é a sobrevivência ou não do bloqueio americano, que já dura quase 45 anos. O embargo ocorreu durante os anos da chamada Guerra Fria, compensado pela ajuda soviética e pelo intercâmbio com o bloco socialista. Após o fim da União Soviética, em 1992, a economia cubana entrou em colapso e até setores sagrados para o corolário socialista vêm sofrendo com a falta de recursos. De lá para cá, os gastos do governo com educação, por exemplo, foram reduzidos em 35% e as matrículas nas universidades caíram pela metade. “Nos últimos 20 anos, o desafio cubano tem sido abrir-se para a economia mundial sem abrir mão das conquistas da revolução”, diz Holly Ackerman. O fim do bloqueio ajudaria? “É claro que sim. Pelo menos teríamos a exata noção da saúde e do tamanho da economia cubana. Porém, além do fim do bloqueio, outras questões precisarão ser discutidas. Cuba admitiria se adequar aos organismos internacionais que regem o comércio? Isso sem falar em conviver com imprensa, partidos políticos e eleições livres, antigas reivindicações da comunidade internacional que jamais tiveram aderência junto ao governo de Fidel.”
A historiadora brasileira e biógrafa de Fidel Castro, Claudia Furiati acredita que a sucessão já começou há algum tempo. “Um afastamento definitivo vai gerar um grande sentimento de perda no povo cubano, mas acho que eles já estavam sendo preparados para isso”, diz Claudia. Ela acredita, ainda, numa mudança nas relações de Cuba com os americanos. “Deve haver maior diálogo, até porque a direita cubana no exílio [americano] tem perdido seu poder de influência, haja vista as últimas eleições legislativas nos Estados Unidos. Tenho a impressão, afirma, de que a distensão pode chegar à revisão, pelo menos parcial, do embargo comercial.” Já o teólogo Frei Betto, que esteve em Cuba para o aniversário de Fidel – comemorado com atraso em dezembro -, concorda que tudo indica que ele já começou a expressar seu testamento político. “A maioria dos membros do Partido Comunista tem de 40 a 50 anos e cada vez mais jovens ocupam funções estratégicas. Como 70% da população nasceu depois de 1959, não há indícios de anseio pela volta ao capitalismo”, afirma. Para Frei Betto, Cuba não quer como futuro o presente de tantas nações latino-americanas, onde a opulência convive com o narcotráfico, a miséria, o desemprego e o sucateamento da saúde e da educação.
O termo Revolução Cubana também se refere à implantação em série de programas sociais e econômicos do novo governo. O apoio soviético depois do movimento armado enfatizou seu caráter anticapitalista e também antiamericano para posteriormente alinhar o país com o chamado bloco socialista. Mas isso só ocorre tempos depois do advento da revolução, não sendo o seu foco inicial. OMovimento 26 de Julho, liderado por Fidel Castro a partir de Sierra Maestra, em Cuba, a 1º de janeiro de 1959, foi o responsável pela queda da ditadura de Fulgêncio Batista, ali implantada desde 1952. Com Fidel nasceu o socialismo responsável por mudanças profundas como a reforma agrária, o fusilamiento dos adeptos de Fulgêncio e a nacionalização das empresas. Com a conquista da ilha, a União Soviética, passou a dar respaldo a Fidel, pelo caráter antiamericano e anticapitalista que o novo sistema político assumia.
Ora, a atividade política se define segundo Max Weber de três formas, primeiro necessita-se de um território delimitado, mesmo que possa ocorrer variáveis, o território particulariza agrupamento, sem esse agrupamento não se pode falar em atividade política; segundo, os indivíduos que atuam no interior desse território acabam se comportando de acordo com o território em que estão inseridos; em terceiro lugar “o meio da política é força, eventualmente a violência”. E o domínio (herrschaft) está no âmago do político é antes de tudo um agrupamento de domínio. Pode-se, pois, definir a política como a atividade que reivindica para a autoridade instalada em um território; a) o direito dedomínio, com a possibilidade de usar, b) em caso de necessidade a força ou a violência, quer para manter a ordem interna e as oportunidades que dela decorrem, e c) quer para defender a comunidade contra ameaças externas. A atividade política consiste, em suma, entravar, deslocar ou perturbar as relações de domínio.
Além disso, Max Weber (1958, 1983, 1987) concebe esse processo de adaptação como “racionalização” e, em 1904/05 afirmava o seguinte: “Ninguém sabe ainda a quem caberá no futuro viver nessa prisão [o capitalismo vencedor, USB] ou se, no fim desse tremendo desenvolvimento, não surgirão profetas inteiramente novos, ou um vigoroso renascimento de velhos pensamentos e ideias, ou ainda se nenhuma dessas duas – a eventualidade de uma petrificação mecanizada caracterizada por esta convulsora espécie de auto-justificação” (sich-wichtig nehmen). O fato é que estes últimos homens poderiam ser designados por Weber, como “especialistas sem espírito, sensualistas sem coração, nulidades que imaginam ter atingido um nível de civilização nunca antes alcançado”.
Um dos motivos pelos quais Fidel se manteve durante tanto tempo no poder é a sua figura profundamente carismática. Deve entender-se por carisma “a qualidade, que passa por extraordinária, de uma personalidade, considerada por sua exaltação intrínseca como possuidora de forças sobrenaturais ou sobre-humanas”. Ou, ao menos especificamente, extracotidianas e não exequíveis a qualquer outro. Em sua origem, o carismático tem um conhecimento mágico: – são os profetas, feiticeiros, árbitros, chefes de caçada ou caudilhos militares. Surgem como enviados de Deus ou como um protótipo humano exemplar. E, consequentemente, como chefe, caudilho, guia ou líder. A relação de orgulho político, a honra, o poderio e a grandeza dá-se a entender pela compreensão de prestígio. Onde todo o poderio político tende a elencar em suas ações. O imperialismo segundo Weber, “exprime ideias de prestígio”. Logo, “A nação é antes de tudo a expressão de uma potência que tem por base o pathos do prestígio”. O prestígio é senão o espírito particular de cada nação.
Nos últimos anos, a conservadora e politicamente incorreta, para utilizar expressão em voga, imprensa brasileira e os trabalhos acadêmicos não têm poupado munição para atacar intermitentemente Fidel Castro, a revolução Cubana e suas conquistas políticas e sociais, inclusive do ponto de vista da diversidade cultural (cf. ). A informação que nos chega diariamente via jornais, televisão, revistas e teses defendidas nas universidades, sempre objetiva pintar, para Cuba, um cenário pouco pior do que o do inferno no imaginário medieval. A palavra de ordem contra Fidel e a ilha se expressa da seguinte forma: “O ditadorcubano Fidel Castro…”. E a ideologização do discurso político decorre dos chamados “âncoras” que são os apresentadores de um telejornal. Cabe a ele narrar, anunciar ou comentar as notícias que serão exibidas, ou chamar repórteres que entram ao vivo na programação. Diz-se que o termo “âncora”, neste sentido, teria sido aplicado pela primeira vez em 1952, para se referir ao trabalho de Walter Cronkite durante a convenção pré-eleitoral do Partido Democrata nos EUA.
No Brasil, ficaram famosos Carlos Monforte, Gontijo Filho, Heron Domingues, Hilton Gomes, Cid Moreira, Sérgio Chapelin, Eliakim Araújo, Leda Nagle, Celso Freitas, Leila Cordeiro, Chico Pinheiro, Marcos Hummel, Paulo Henrique Amorim e Boris Casoy, William Bonner e Fátima Bernardes à frente do famigerado Jornal Nacional, William Waack entre outros. Das novas gerações, destacam-se Ana Paula Padrão, Adriana Araújo, Carlos Nascimento, Christiane Pelajo, Hermano Henning, Sandra Annenberg, Luciana Liviero, Janine Borba, Carla Cecato, Lilian Witte Fibe, Ticiana Villas-Bôas, Thalita Oliveira, Nadja Haddad, Eduardo Ribeiro e Mariana Godoy. Mas dois são fascistas, de “carteirinha”, se simplificadamente entendemos como anticomunistas que são os próceres Boris Casoy e William Bonner. Infelizmente muito se fala sobre Cuba, muito se escreve sobre Cuba, muito se condena e se exalta Cuba, mas muito, muito poucos se dedicam a estudar a fundo a história de Cuba. Esses dois mereceriam passar uma colônia de férias em Cuba… na colheita da cana-de-açúcar.
Na contramão dessa tendência, A Revolução Cubana e a Questão Nacional (1868-1963),tese de Doutorado defendida no Departamento de História Econômica da USP e lançado em livro neste agosto de 2007, traz ao leitor um estudo profundo e apaixonado dos principais acontecimentos históricos que marcaram a Ilha por quase 100 anos anteriores à revolução. Com riqueza de detalhes e descritibilidade são narrados no livro fatos ignorados pelo chamado “grande público”, tais como aPrimeira e a Segunda Guerras de Independência, as constantes intervenções militares e políticas dos EUA, a contradição crescente entre a burguesia açucareira – tão subserviente ao capital estrangeiro – e os trabalhadores cubanos – tão ávidos por liberdade.
Além da abundância de informação sobre a História da Ilha, algo difícil de encontrar na bibliografia até hoje publicada no Brasil, salvo honrosas exceções, outro elemento que torna o livro precioso para o leitor comum é a forma como o historiador relaciona os principais episódios históricos de Cuba com a trajetória de vários de seus heróis. Impossível não se emocionar com a tenacidade do poeta José Martí que, apesar do corpo franzino, fez questão de lutar no campo de batalha da Segunda Guerra de Independência; ou com a morte de Antonio Guiteras, assassinado após uma covarde delação; ou ainda com os sempre eloquentes discursos de Fidel Castro e sua brava atuação frente ao grupo de guerrilheiros que até hoje encanta os jovens revolucionários de toda a América Latina. No livro, que pode ser comparado a um verdadeiro poema épico, o herói individualizado aos poucos cede lugar ao povo cubano que, em Playa Girón e nas Brigadas de Alfabetização se transforma, como um todo, no maior e mais honrado herói de sua pátria. Pela coragem de se colocar ao lado de Cuba – e não de Miami – neste momento crucial da história da Ilha, pela riqueza de detalhes, pela profundidade da pesquisa e pela linguagem elaborada, porém acessível, o livro A Revolução Cubana e a Questão Nacional (1868-1963), sem dúvida, é obra de leitura obrigatória para todos os que se interessem por aquela fascinante Ilha do Caribe.
Bibliografia geral consultada
Fidel Castro – Nada Podra Detener la Marcha de la Historia. Entrevista Concedida a Jeffrey Elliot y Mervin Dymally sobre Múltiples Temas Económicos, Políticos e Históricos. La Habana: Editora Política, 1985a; Idem, La Cancelación de la Deuda Externa y el Nuevo Orden Economico Internacional como unica Alternativa Verdadera. Otros Asuntos de Interes Politico e Histórico.Texto completo de la entrevista concedida al periódico Excelsior de Mexico. La Habana? Editora Política, 1985b; ALENCASTRO, Luiz Felipe de, Le Commerce du Vivants – traites d` esclaves et ´pax lusitana` dans L` Atlantique Sud. Tese de Doutorado. Paris: Université de Paris X, 1986; ARBEX JÚNIOR, José, A Segunda Morte de Lenin – o colapso do império vermelho. 1ª edição. São Paulo: Folha de São Paulo, 1991; Idem,Narcotráfico: Um Jogo de Poder nas Américas. São Paulo: Moderna, 1993a; Idem, A outra América – apogeu, crise e decadência dos Estados Unidos.Moderna, 1993b; BARRAT-BROWN, Michael, A Economia Política do Imperialismo. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978; BELTRÁN, Luis Ramiro & CARDONA, Elizabeth Fox de, Estados Unidos en los Medios de America Latina. México: Editorial Nueva Imagen, 1980; BETTELHEIM, Charles, La Transition vers L’économie Socialiste. Paris: François Maspero, 1968; Idem, A Luta de Classes na União Soviética. Primeiro período (1917-1923). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976; CARO, Efrain Ruiz, La Tercera Colonización. El Poder de la Mídia en la Era Tecnológica.Lima: Ediciones la Voz, 1990; CHOMSKY, Noam, USA: Mito, Realidad, Acracia. Barcelona: Editorial Ariel, 1978; FAULKNER, H. U., História Económica de los Estados Unidos. Buenos Aires: Editorial Nova, 1956; GIDDENS, Anthony, As Consequências da Modernidade. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1991; HABERMAS, Jürgen, “What Does Socialism Mean Today? The Rectfying Revolution and the Need for New Thinking on the Left”. In: New Left Review, number 183, september/october 1990a; IANNI, Octávio, “A Política Mudou de Lugar”. In: Desafios da Globalização/orgs. Ladislau Dowbor e outros. Petrópolis (RJ): Vozes, 1997ª; Idem, “O Socialismo na Era do Globalismo”. Texto escrito e falado no XXI Congresso da ALAS – Associación Latinoamericana de Sociología. São Paulo: USP, 31 de agosto a 5 de setembro de 1997b; Idem, A sociedade global. 5ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997c entre outros.