Ubiracy de Souza Braga*
“A ponte
não é para ir nem pra voltar/A ponte é somente pra atravessar...”. (Lenine)
Sabiaguaba
(foto) é uma praia brasileira localizada em bairro homônimo, à cerca de 15 Km
do centro da cidade de Fortaleza, no estado do Ceará. É considerada pelos
turistas e residentes na região “uma praia tranquila”, e é frequentado por
diversas pessoas pela sua possibilidade de pesca na região. A praia também
conta com duas unidades de conservação ambiental administrada pela Prefeitura
de Fortaleza desde fevereiro de 2006. Tanto, a) o Parque Natural Municipal das
Dunas de Sabiaguaba e, b) a Área de Proteção Ambiental de Sabiaguaba, foram
criadas “com o intuito de garantir a preservação ambiental e o turismo
ecológico na região”. Vale lembrar que o rio Cocó nasce na vertente oriental da
Serra da Aratanha, na cidade de Pacatuba e nos seus 50 km de percurso passa por
Maracanaú, Itaitinga e Fortaleza, para desaguar no oceano Atlântico, nos
limites das praias do Caça e Pesca e de Sabiaguaba, objeto de reflexão sobre a
apropriação do espaço geográfico.
O bairro da Sabiaguaba está inserido no
extremo leste do litoral de Fortaleza. Limita-se ao nordeste com o oceano
Atlântico, ao oeste com os bairros Edson Queiroz, Sapiranga e Lagoa Redonda e
no plano municipal, a sudeste, com Aquiraz e ao sudoeste com Eusébio.
Encontra-se situado em grande parte na Planície Litorânea, entre os estuários
do rio Cocó e o do rio Pacoti, havendo, também, na área mais central, trechos
do “tabuleiro pré-litorâneo”,
nascentes de pequenos riachos, lagoas e setores representativos do sistema
fluviomarinho. No extremo oeste, as lagoas da Precabura e Sapiranga chamam a
atenção pela sua magnitude, complexos ecossistemas e beleza, funcionando como
um limite natural para o bairro. Esta unidade da Planície Costeira está
localizada em áreas onde há influência das oscilações da maré. Assim, a
planície flúvio-marinha desenvolve-se da combinação de processos continentais e
marinhos cujos agentes fluviais, terrestres e oceânicos propiciam a formação de
um ambiente lamacento, encharcado, úmido, rico em matéria orgânica e com
vegetação de mangue.
Tese:
A geografia crítica, também chamada geocrítica,
é uma corrente que propõe romper com a ideia de neutralidade científica para
fazer da geografia uma ciência apta a elaborar uma crítica radical à sociedade
capitalista pelo estudo do espaço e das formas de apropriação da natureza.
Nesse sentido, enfatiza a necessidade de engajamento político dos geógrafos e
defende a diminuição das disparidades socioeconômicas e regionais. Essa
corrente nasceu na França, em 1970, e depois na Alemanha, Brasil, Itália,
Espanha, Suíça, México e outros países. A expressão foi criada na obra: “A
Geografia - isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra”, de Yves
Lacoste. A produção geográfica anterior a esta época pregava a neutralidade e
excluía os problemas sociais, devido à concepção de que tais temas não eram
geográficos. Nesse sentido, a geocrítica
significou, principalmente, uma aproximação com movimentos sociais cujos
discursos, práticas e reivindicações tenham um conteúdo político e ideológico
de crítica social.
Melhor dizendo,
“La geografía crítica (también llamada
geografía radical) es una corriente de la Geografía humana que se basa principalmente
en la Teoría crítica (Escuela de Frankfurt) para su análisis geográfico. Surgió
durante las décadas de 1970 y 1980 como respuesta a las tendencias
neopositivistas dentro de la geografía y suele situarse en sus orígenes junto a
la Geografía del Comportamiento y a la Geografía Humanista. Sus límites a otras
corrientes geográficas actuales, tales como la Nueva Geografía Cultural, la
Geografía social o la ya mencionada geografía humanista, no está siempre bien
definido y es motivo de reiteradas discusiones teóricas. Entre uno de sus
precursores y mayores referentes hasta la actualidad puede nombrarse al
geógrafo inglés David Harvey. Unos de sus máximos exponentes en el mundo no
anglosajón fue el geógrafo marxista brasilero Milton Santos. Otros geógrafos
influyentes en esta escuela son el francés Yves Lacoste y el español Horacio Capel”.
O Parque Natural Municipal das Dunas da
Sabiaguaba (PNMDS) e a Área de Proteção Ambiental da Sabiaguaba (APA) foram
instituídos pelo Poder Público Municipal por meio, respectivamente, dos
Decretos 11.986 e 11.987, ambos de 20 de fevereiro de 2006. Importante é
destacar que a criação das referidas unidades de conservação observou fielmente
as disposições da Lei Federal 9.985/2000, que instituiu o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). Em seu art. 22, a lei federal
estabelece que as unidades de conservação “devam ser criadas por ato do Poder
Público, após estudos técnicos e consulta pública, que permita identificar a localização,
a dimensão e os seus limites, procedimentos estes que foram adotados no caso em
tela”. No que tange à natureza do ato que criou as unidades, não existe nenhuma
restrição jurídica à utilização de decretos para tal fim.
A área do Parque Natural Municipal das
Dunas de Sabiaguaba (PNMDS) é de 467,60ha, englobando o campo de dunas móveis,
semifixas e fixas, uma faixa de praia e as lagoas costeiras e interdunares. Ao
sudeste limita-se com a Área de Proteção Ambiental (APA) do estuário do rio
Pacoti e ao noroeste coma APA do rio Cocó; ao este e nordeste com o oceano
Atlântico e ao oeste como tabuleiro litorâneo nas proximidades das lagoas da
Precabura e Sapiranga. Seus limites levaram em conta a efetiva proteção de unidades
de preservação permanente (APP), sítios arqueológicos, componentes da paisagem
e ecossistemas de elevada fragilidade e fauna e flora de relevantes interesses socioambientais
e científicos.
Depois
de quase uma década, parlapatões entregam obra para a
população de Fortaleza.
Para a área de proteção ambiental
(APA de Sabiaguaba), definiu-se uma área de 1.009,74ha. Limitada a nordeste e
sudeste pelo PNMDS à norte pelo manguezal e desembocadura do rio Cocó; ao
sudoeste e ao noroeste pelo bairro Sabiaguaba e ao sul pelo manguezal do rio
Pacoti e praia da Cofeco. Abrange sistemas ambientais representados pelo
manguezal, lagoa da Sapiranga e parte de seus afluentes, faixa de praia e,
predominantemente o tabuleiro litorâneo. É importante salientar que a APA atua
como Zona de Amortecimento favorecendo um detalhado sistema de gestão com os fundamentos
e critérios para minimizar os impactos na Unidade de Proteção Integral.
Sandboard
em Sabiaguaba/Foto: Natinho Rodrigues
De maneira geral, em virtude da
permeabilidade de seus sedimentos, as dunas de Sabiaguaba possuem elevada
capacidade de armazenamento hídrico. Desta forma, “constitui o mais importante
aquíferodunar deste setor sudeste da cidade de Fortaleza”. Foram constatadas, localmente
e nas bordas das dunas móveis e fixas, nascentes de riachos e, quando o lençol
freático aflora, a presença de um elevado número de áreas úmidas: ao leste
formam as lagoas interdunares sobre a planície de aspersão eólica, e, ao este,
ressurgências, originando riachos, mananciais de água doce na direção dos
estuários e alimentando os cursos de água perenes ou intermitentes, como rios,
lagoas e riachos. A lagoa da Gereberaba está diretamente associada a estes
processos geodinâmicos e de sazonalidade climática.
“Como é que faz pra lavar a roupa?/Vai na
fonte, vai na fonte/Como é que faz pra raiar o dia?/No horizonte, no
horizonte/Este lugar é uma maravilha/Mas como é que faz pra sair da ilha?/Pela
ponte, pela ponte/A ponte não é de concreto, não é de ferro/Não é de cimento/A
ponte é até onde vai o meu pensamento/A ponte não é para ir nem pra voltar/A
ponte é somente pra atravessar/Caminhar sobre as águas desse momento/A ponte
nem tem que sair do lugar/Aponte pra onde quiser/A ponte é o abraço do braço do
mar/Com a mão da maré/A ponte não é para ir nem pra voltar/A ponte é somente
pra atravessa/Caminhar sobre as águas desse momento/Nagô, nagô, na Golden
Gate/Entreguei-te/Meu peito jorrando meu leite/Atrás do retrato-postal fiz um
bilhete/No primeiro avião mandei-te/Coração dilacerado/De lá pra cá sem
pernoite/De passaporte rasgado/Sem ter nada que me ajeite/Nagô, nagê, na Golden
Gate/Coqueiros varam varandas no Empire State/Aceite/Minha canção hemisférica/A
minha voz na voz da América/Cantei-te, ah/Amei-te/Cantei-te, ah/Amei-te”(cf.
Lenine, A Ponte).
Escólio:
A obra da construção da ponte começou em 2002 e estava paralisada desde 2005,
sendo retomada no ano passado. A previsão inicial para a conclusão era setembro
de 2003, mas o projeto foi sofrendo atrasos até ser totalmente parado depois de
decisão da Justiça Federal “pelo fato de a construção não obedecer ao projeto
inicial”. A construção, com 325 metros de extensão, 21,40 metros de largura e
1.553 metros de pista, que incluiu ainda obras de paisagismo, iluminação e
arborização, qualifica as praias do Futuro e da Sabiaguaba, além de
proporcionar o encurtamento da distância entre Fortaleza e as praias do litoral
leste cearense, a partir do fim da Avenida Dioguinho, no bairro Caça e Pesca,
incrementando o turismo. O investimento foi de R$ 9,7 milhões, com recursos do Ministério
dos Transportes. A ponte sobre o Rio Cocó, também conhecida como Ponte da
Sabiaguaba, foi finalmente inaugurada e entregue à comunidade de Fortaleza. Chegou
ao fim em 2010, uma espera de quase uma década.
Vista panorâmica da Ponte Rio-Niterói, Brasil.
Vale lembrar em termos de análise comparada que, a Ponte Presidente Costa e Silva, popularmente conhecida como Ponte Rio-Niterói, localiza-se na baía de Guanabara, estado do Rio de Janeiro, liga o município do Rio de Janeiro ao município de Niterói. O conceito de seu projeto remonta a 1875, visando a ligação entre os dois centros urbanos vizinhos, separados pela baía de Guanabara ou por uma viagem terrestre de mais de 100 km, que passava pelo município de Magé. À época havia sido concebida a construção de uma ponte e, posteriormente, de um túnel. Entretanto, somente no século XX, em 1963, foi criado um grupo de trabalho para estudar um projeto para a construção de uma via rodoviária. Em 29 de dezembro de 1965, uma comissão executiva foi formada para cuidar do projeto definitivo de construção de uma ponte. O general-presidente Costa e Silva assinou decreto em 23 de agosto de 1968, autorizando o projeto de construção da ponte, idealizado por Mário Andreazza, então Ministro dos Transportes, sob a gestão de quem a ponte foi iniciada econcluída. A obra teve início, simbolicamente, em 9 de novembro de 1968, com a presença da Rainha da Grã-Bretanha, Elizabeth II e de Sua Alteza Real, o Príncipe Filipe, Duque de Edimburgo, ao lado do ministro Mário Andreazza.
A ligação rodoviária foi entregue em 4 de março de 1974, com extensão total de 13,29 km, dos quais 8,83 km são sobre a água, e 72 m de altura em seu ponto mais alto, e com previsão de um volume diário de 4.868 caminhões, 1.795 ônibus e 9.202 automóveis, totalizando 15.865 veículos. Atualmente é considerada a maior ponte, em concreto protendido, do hemisfério sul e atualmente é a sexta maior ponte do mundo. No ano em que foi concluída, era a segunda maior ponte do mundo, perdendo apenas para a Causeway do lago Pontchartrain nos Estados Unidos. Ela continuou no posto de segunda maior ponte do mundo até 1985 quando foi concluída a Ponte Penang na Malásia. A importância da Rio-Niterói na Região Metropolitana do Rio de Janeiro tomou tais proporções, que é comum que seus habitantes se refiram à obra como “a Ponte”, tal é a importância social da via de comunicação.
Segundo a concessionária Ponte S/A, em fluxos normais, o movimento médio atinge 140 mil veículos/dia. O tráfego da Rio-Niterói tem um acréscimo considerável em vésperas e final de feriados prolongados, uma vez que ela é o caminho para ir da cidade do Rio de Janeiro para as rodovias que dão acesso às praias da Região dos Lagos, região turística do estado do Rio de Janeiro. Faz parte da BR 101 e está sob a circunscrição da 2ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Em 2009 foi realizada obra na qual a Ponte passou de 3 para 4 faixas de rolamento em cada sentido. Porém, tal obra é considerada apenas um paliativo, visto que a capacidade de tráfego da Ponte Rio-Niterói encontra-se à beira do esgotamento, havendo congestionamentos em grande parte do dia.
Antes de tudo, então, o que significa para nós um processo social de comunicação? Simplificadamente representa o início e o fim de uma cadeia de relações técnicas (de trabalho) tal que cada processo se conecte imediatamente ao outro, formando “a rede planetária em que você ainda vai se plugar”, o que indica que a ideia geral de conectividade, que os matemáticos conhecem por transitividade, cimenta a ideia de comunicação. De acordo com J.A. Lopes (1991) “esta designação expressa a transitividade entre processo de trabalho, ou entre fluxos de forças, transitividade essa imediatamente suposta quando se pensa técnica. Ou, quando se pensa em técnica como determinada relação entre meios numa atividade de trabalho. Assim, tem-se definições correlatas: técnica, enquanto ação de transportar controladamente, orientadamente, o trabalho, via meio de trabalho; transitalidade, “enquanto fluxo socialmente controlável das forças contidas nos meios de trabalho numa sociedade. A transitalidade é o nome para a relação geral de conectividade que caracteriza a ideia de comunicação”.
Só que com o termo transitalidade, designação da relação geral de conectividade, quer-se destacar a articulação enquanto tal, seja enquanto uma cadeia de sentido que articula entre si os meios, seja enquanto interligação dos valores-de-uso dos meios vigentes em sociedade. E com o termo tecnologia se quer significar, não a articulação enquanto tal, e menos ainda a cadeia de sentido e interligação de valores-de-uso, mas a cadeia/interligação dos próprios produtos/meios e dos processos de trabalho que os produzem. As relações de transitalidade constituem-se por certa bidimensionalidade dos meios. Isto significa dizer que há uma espécie de interação perpétua entre suportes que alimenta a trama das relações de produção e se expressa na trama correspondente das relações simbólicas; uma espécie de interação perpétua inerente à mera atribuição de valores-de-uso a quaisquer produtos.
De todo modo, uma pesquisa que leve em conta novos fundamentos para uma teoria de comunicação entende que a tecnologia expressa um modo vivenciado de ciência aplicada, entendendo-se ainda por aplicação da ciência, a depuração social do conhecimento em processos de trabalho. Depuração intermediada politicamente, por certo, mas que tem inegavelmente uma base técnica da comunicação. A importância dessa base técnica da comunicação encontra-se na apropriação e difusão da informação, em seus efeitos sociais, em seus impactos sobre a vida social. A informação formaliza o objeto portador e difusor de significação como uma estrutura inerente ao circuito produtivo, generalizando-se a todos os objetos caracterizados por esta relação.
À comunicação, portanto, interessa a imbricação entre os processos de trabalho e a reunião adjacente de imagens (ver fotos: 1, 2, 3). Pois, por mais arbitrário que sejam as razões de notícias, por exemplo, encontrarem-se juntas - não é arbitrário o fato de que estão editadas/ajustadas no papel, nas máquinas, no jornal, nas bancas, nas casas, nas ruas; é produção do imaginário social. Nesta relação tudo o que é produzido socialmente encontra-se antes de tudo subordinada a necessidades e desejos que determinam por valores qualitativos suas condições de troca. Sua qualidade ou seu valor-de-uso é que permite a interligação dos processos. Dessas condições deriva-se uma concepção específica de comunicação. Aí se expressa a duplicidade de um processo produtivo que é simultaneamente comunicativo, ou, de um processo produtivo cujos resultados são simultaneamente objetos/coisas e objetos ideias. Este é o suposto principal que está sendo esboçado no presente texto.
Diz-se assim, ser indispensável à reconversão permanente do imaginário individual e coletivo suscetível de legitimar interesses divergentes e contraditórios. De outra parte, esta argumentação expressa muito bem a exterioridade desta relação, tendo em vista que o controle da informação, no caso brasileiro, o que não é ocasional, tem uma história construída a partir de “cumplicidades objetivas”, no dizer de Linda Bulik, i.é., tecida de conveniências entre alguns setores dominantes, segmentos militares, trusts estrangeiros e grupos patronais principalmente com o advento da mass communications.. A função de reprodução é a mais importante e básica dos chamados meios de comunicação de massa. Sob a aparência de objetividade, diversidade, indiferença e imparcialidade da produção dos meios se esconde um uso de códigos que revela a transmissão de diversas normas seletivas, as relações de poder, da sociedade ou a relação da organização com a estrutura de domínio social.
Dieter Prokop (1970) esclarece este ponto, quando identifica na formação de oligopólios, a criação de espaços de apropriação de saberes no âmbito das comunicações no mercado mundanizado. Ele refere-se a “esfera do público” (cf. Oskar e Kluge, 1970) que se caracteriza pela liberdade formal dos sujeitos, pela liberdade, em princípio ilimitada, de expressão, pelo livre acesso aos meios necessários para isto, e pela oportunidade de ter uma influência real. O que condiciona, é que ela tem experimentado uma modificação estrutural, derivada das modificações de caráter oligopolístico e monopólio tanto das estruturas de mercado como das estruturas de poder. Decorre daí a presença organizada de poderosas associações de interesses dos grupos “socialmente relevantes” e a organização da forma de mercado oligopolístico e monopolista e, como consequência, a aparição e prevalência dos grandes trusts. Frente a todos estes resultam impotentes àqueles grupos cujos interesses não se tem generalizado eficazmente o que por sua própria estrutura não tem a possibilidade de generalizar-se.
Finalizando, vale lembrar que a modernidade é inerentemente globalizante (cf. Santos, 1977; 1978; 1982; 2000). Ela tanto germina a integração como a fragmentação. Nela desenvolvem-se as diversidades como também as disparidades. A dinâmica das forças produtivas e das relações de produção, em escala local, nacional, regional e mundial, produz interdependências e descontinuidades, evoluções e retrocessos, integrações e distorções, afluências e carências, tensões e contradições. É altíssimo o custo social, econômico, político e cultural da globalização do capitalismo, para muitos indivíduos e coletividades ou grupos e classes sociais subalternos. Em todo o mundo, ainda que em diferentes gradações, a grande maioria é atingida pelas mais diversas formas de fragmentação. A realidade é que a globalização do capitalismo implica na globalização de tensões e contradições sociais, nas quais se envolvem grupos e classes sociais, partidos políticos e sindicatos, movimentos sociais e correntes de opinião pública, em todo o mundo. Além disso, enquanto “totalidade histórico-social em movimento, o globalismo tende a subsumir histórica e logicamente não só o nacionalismo e o tribalismo, mas também o imperialismo e o colonialismo”. Nela, as relações entre formas sociais e eventos locais e distantes se tornam correspondentemente “alongadas”.
O clima de comunicação (cf. Lopes, 1991) representa um valor socialmente dado, o valor-de-informação, que tem como resultado o trabalho em sua extensão e processo de comunicação, e intensificado em sua intenção de apropriar-se de todas as formas possíveis de comunicação. O controle da informação no interior dos Estados modernos é um monopólio tão bem assegurado como é mais ou menos bem sucedido os meios de violência no interior de seus próprios territórios. Pois, um dos mais importantes efeitos do industrialismo foi a transformação das tecnologias de comunicação. Trata-se de entender a sociedade enquanto valor-de-informação, ou seja, no que ela faz, produz, comunica, já que todo processo de trabalho é simultaneamente um processo de comunicação, embora nem todo processo de comunicação seja de fato, um processo de trabalho a não ser potencialmente.
Para Marc Augé, as mediações que permitem desenvolver a identidade e tomar consciência da alteridade e dos laços sociais, são substituídas pelos meios de comunicação. Para ele, é precisamente a ideologia dominante que decreta o fim da história e assimilam as obras a produtos como os outros, porque, como toda ideologia, ela privilegia e generaliza um aspecto do real. Mas é verdade que, levada ao extremo, a lógica da situação supermoderna supõe ou postula esse duplo desaparecimento. O que a história faz surgir são, antes, novas possibilidades. Elas coexistem, mesmo que sejam, cada uma delas por sua vez, a expressão de certas formas de poder e, globalmente, um problema de relação de forças. Sabe-se muito bem que o imaginário tem sua própria eficácia, mas do ponto de vista das lutas históricas, podemos nos perguntar se ele não é mais um instrumento que uma finalidade, ou mais exatamente, se ele nunca se confunde com os fins que lhe são associados. O processo de comunicação como relação de objetos considerados por seus valores-de-informação generaliza-se a todos os objetos caracterizados por esta relação. Bibliografia geral consultada:
Música: “A Ponte”, Lenine; PROKOP, Dieter, “Esfera de lo Público Burguesa y Esfera de lo Público Alternativa: Caracteristicas Intistucionales y problemas Estructurales”. In: José Vidal Beneyto (Editor),Alternatívas Populares e las Comunicaciones de Masa. Madrid. Centro de Investigación Sociológica, 1970; pp. 83 e ss.; NEG, Oskar e KLUGE, Alexander Kluge, Sfera Publica ed Esperienza: Per un’Analisis dell’Organizzazzione della Sfera Publica Borghese e della Sfera Publica Proletaria. Milano, Gabrielle Mazzota Editore, 1970; BRAGA, Ubiracy de Souza Braga, “Notas sobre Michel Foucault e os Anarco-Ecologistas”. Disponível no site: http://www.oreconcavo.com.br/2012/05/11/notas-sobre-michel-foucault-e-os-anarco-ecologistas/; LOPES, João Aloísio, Lições de Transitologia. (Introdução a uma Teoria Geral da Comunicação que procura Compreender, num enfoque Sócio-Técnico, como as Coisas Falam). Tese de livre Docência. São Paulo: Escola de Comunicações e Artes - ECA/Universidade de São Paulo, 1991; pp. 47 e ss.; CLAVAL, Paul, La pensée geographique. Paris: PUF, 1982; Idem, “A revolução pós-funcionalista e as concepções atuais da geografia”. In: MENDONÇA, F. e KOZEL, S. (orgs.), Epistemologia da Geografia Contemporânea. Curitiba: Editora UFPR, 2002; Idem, La geographie du XXeme siècle. Paris: PUF, 2004; MÉDICI, André César, “Marx e o meio ambiente”. In: KONDER, Leandro; CERQUEIRA FILHO, Gisálio; FIGUEIREDO, Eurico Lima, Por que Marx? Rio de Janeiro: Editora Graal, 1983; Artigo: ZEZÉ, Preto, “Um ApartheidChamado Fortaleza!”: http://www.justicaambiental.org.br/justicaambiental/; MORAES, A. C. R.,Ideologias geográficas. São Paulo: Editora Hucitec, 1989; YÁZIGI, E.; CARLOS, A. F. A.; CRUZ, R. C.,Turismo: espaço, paisagem e cultura. São Paulo: Editora Hucitec, 1999; RIBEIRO, W. C., A ordem ambiental internacional. São Paulo: Editora Contexto, 2001; Artigo: “Enfim, Ponte da Sabiaguaba é inaugurada”. Disponível no site: http://diariodonordeste.globo.com/materia.14.06.2010; Artigo: “Sabiaguaba tem ponte que não leva a nada”. In:http://www.cearaagora.com.br/noticias/politica/sabiaguaba-tem-ponte-que-nao-leva-a-nada; SANTOS, Milton, “Sociedade e espaço: a formação social como teoria e como método”. In: Boletim Paulista de Geografia, São Paulo: AGB, 1977, pp. 81- 99; Idem, O trabalho do geógrafo no Terceiro Mundo. São Paulo: Editora Hucitec, 1978; Idem, Pensando o espaço do homem. São Paulo: Editora Hucitec, 1982; Idem, Por uma economia política da cidade. SP: Hucitec /Educ, 1994; Idem,Por outra globalização - do pensamento único à consciência universal. São Paulo: Editora Record, 2000; ELIAS, D. “Milton Santos: a construção da geografia cidadã”. In: El ciudadano, la globalización y la geografía. Homenaje a Milton Santos. In: Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Universidad de Barcelona, vol. VI, núm. 124, 30 de septiembre de 2002. Disponível em: http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-124.htm; BORZACHIELLO, José; CAVALCANTE, Tércia; DANTAS, Eustógio (orgs.), Ceará: um novo olhar geográfico. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2007; DINIZ FILHO, Luís Lopes, Fundamentos epistemológicos da geografia. 1ª edição. Curitiba: IBPEX, 2009 (Coleção Metodologia do Ensino de História e Geografia, 6), entre outros.
_______________
*Sociólogo
(UFF), cientista político (UFRJ), doutor em Ciências junto à Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de
Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).